em 12x

Anúncio pausado

Características principais

Nome do álbum
Os Ídolos Do Rádio 2
Companhia produtora
Collector's Editora Ltda.
Formato
Físico
Tipo de álbum
Vinil
Incluí faixas adicionais
Não
Ano de lançamento
1986

Outras características

  • Quantidade de canções: 12

  • Origem: Brasil

Descrição

OS ÍDOLOS DO RÁDIO VOL. II - FRANCISCO ALVES

Considerado o melhor cantor brasileiro da primeira metade do século, Francisco Alves teve uma longa e inesquecível participação em nossa cena musical. Suas atuações desde 1918, até o fatídico setembro de 1952, permitiram que ele fosse o artista que mais gravou discos em 78 rotações neste país. Tempo houve até em que ele chegou a gravar na Odeon e na Parlophon, simultaneamente, usando o próprio nome numa das gravadoras e um pseudônimo de Chico Viola na outra. Foi amado pelo público. Até hoje ele tem admiradores que conservam seus discos, que guardam suas lembranças, cultuando a memória do ídolo. O rádio deu a Francisco Alves a projeção do próprio nome e foi o grande veículo divulgador das melodias que ele criou, muitas das quais se imortalizaram. Sua temporada no Rádio deixou excelente documentação nos discos de acetato que as emissoras gravaram e esses acetatos se constituem, hoje, num primoroso material de reconstituição histórica. Pena que a ação do tempo contribua para destruir muitos desses discos que, mesmo assim, precisam e merecem ser preservados. Aqui estão, numa reunião de flagrantes inéditos, algumas raridades retiradas do silêncio das prateleiras e dos baús, renascidas após cuidadosa recuperação técnica. São músicas do repertório de outros cantores que Francisco Alves cantou em seus programas e que jamais gravou em discos comerciais. Só isto é bastante para credenciar este segundo volume da série Os Ídolos do Rádio, com o qual a Collector’s contribui, novamente, para a preservação da memória musical.

SAIA DO CAMINHO (Custódio Mesquita e Evaldo Rui)
Quando o primeiro disco deste samba foi gravado, seu compositor, Custódio Mesquita, não estava mais entre nós. Ele havia falecido em 13 de março de 1945. Foi o parceiro, Evaldo Rui, que entregou a música para Araci de Almeida para gravá-la, o que aconteceu em 8 de fevereiro de 1946, no disco Odeon 12.686. Trata-se, portanto, de obra póstuma. Acontece que Saia do Caminho fez grande sucesso e Francisco Alves, sempre atento às preferências populares, acabou por incluir a composição de Custódio e Evaldo em um de seus programas com o arranjo que aqui está e onde a gente pode distinguir o violão-tenor do Garoto, num pequeno solo incorporado à parte de orquestra.

AZULÃO (Jayme Ovalle e Manuel Bandeira)
As duas canções tidas como as mais importantes da obra de Jayme Ovalle têm versos de Manuel Bandeira e são a Modinha e o Azulão. Foram escritas para canto e piano e são os opus 5 e 21, respectivamente. Acontece que, naquele tempo, Francisco Alves mantinha seu repertório com melodias bem populares e com outras de maior prestígio artístico e o Azulão foi incluído em um de seus programas. Ele cantou, não com acompanhamento de piano – como na obra original – mas com uma grande orquestra, à qual se somou o grupo vocal. É o arranjo que aqui está, onde, depois do tema ter sido inteiramente exposto por Francisco Alves, a orquestra modula, um tom acima, para as vozes do grupo coral, sendo que o Rei da Voz repete o Azulão agora nesta nova tonalidade, provando a excelência de sua extensão vocal. Comercialmente, Azulão figura num disco de Lia Salgado (Victor, 80.1616), de janeiro de 1956 e também num outro de Alice Ribeiro (Continental 20.101) de data presumivelmente anterior, mas a presente gravação de Francisco Alves deve anteceder a de Alice Ribeiro.

INQUIETAÇÃO (Ary Barroso)
Naquele ano de 1935, o cinema nacional atraiu grande público para assistir Favela dos Meus Amores, em cuja trilha sonora destacam-se dois sambas de Ary Barroso. Um era Por Causa Desta Cabocla e outro, Inquietação, ambos gravados por Sílvio Caldas no mesmo disco Odeon 11.255, em 25 de junho do mesmo ano de 1935. A importância do registro que aqui figura, na voz de Francisco Alves, deve-se ao fato de que se trata de uma raridade a mais, obtida em flagrante, durante a irradiação de um programa e com arranjo orquestral escrito com exclusividade para o célebre Rei da Voz.

HISTÓRIA JOANINA (J. Cascata e Leonel Azevedo)
Este é um tipo de canção que ninguém faz atualmente. Tem ambientação sertaneja, conta uma história de amor, refere-se à época de São João – cujos costumes tradicionais vão rareando – e desenvolve uma linha melódica simples, fácil, comunicativa. Coube a Orlando Silva gravá-la em 18 de maio de 1936, no disco Victor 34.067. Orlando estava no auge e foi o primeiro a cantar a História Joanina, assim chamada erroneamente, já que seu título verdadeiro é História Junina. Mas como a voz do povo é a voz de Deus, a gente acaba admitindo o Joanina, errando como se erra até em episódios históricos. Havia quem defendesse o ponto de vista de que canções como esta só deveriam ser cantadas com conjunto regional, mas Francisco Alves dispunha de grande orquestra em seus programas e isto lhe concedia o direito de vestir, luxuosamente, as músicas que interpretava, sem retirar-lhes o caráter.

JOÃO VALENTÃO (Dorival Caymmi)
Nem Dorival Caymmi sabe explicar como Francisco Alves cantou João Valentão em um programa antes de 1952 (ano em que faleceu), pois a música só foi gravada, comercialmente, em 28 de maio de 1953, depois da morte, portanto, do Rei da Voz. Caymmi chega a admitir que “isto é coisa do Haroldo Barbosa”, que secretariou o Francisco Alves, que fez muitas versões para ele e que produziu alguns de seus programas. A verdade é que João Valentão não era música inédita quando o velho Chico a cantou, pois Caymmi costumava interpretá-la em seus programas de rádio, o que permitia que outros a aprendessem. Uma coisa precisa ser salientada aqui: este registro de João Valentão é anterior à gravação comercial de Dorival Caymmi (28 de maio de 1953), o que acrescenta grande valor histórico ao fonograma.

SEGREDO (Herivelto Martins e Marino Pinto)
Neste arranjo, a orquestra se exibe primeiro à guisa de introdução, preparando para a entrada do cantor Francisco Alves numa rápida modulação. Trata-se de uma antológica criação de Dalva de Oliveira em disco, Odeon 12.792, gravado em 6 de maio de 1947, música que marcou bastante a interpretação que ela sabia dar. Mas Francisco Alves nunca temeu confrontos e interpretou Segredo de maneira muito pessoal. Note-se que o samba-canção daquele tempo era diferente do samba-canção que viria mais tarde, na arte de Maysa, Dolores, Nora Ney, gente que sentia a música e os versos como se fossem modinhas modernizadas. O gênero sempre desfrutou de prestígio popular, mas no caso de Segredo, houve um toque emocional a contribuir, pois foi em 1947 que o casal Herivelto Martins e Dalva de Oliveira se desentendeu, iniciando uma separação que o público acompanhou com pesar, percebendo em seus versos, a discórdia e a desarmonia que levariam seus personagens à definitiva desunião.

LOUCO (ELA É O SEU MUNDO) (Wilson Batista e Henrique de Almeida)
Henrique de Almeida não sabia que Wilson Batista tinha feito uma segunda parte para o estribilho de seu samba Louco, música que ele havia mostrado a amigos, em casa do compositor Jorge de Castro. Acontece que todos os presentes cantaram em coro o tal estribilho, numa demonstração de que a melodia era ótima e contagiante. Dias depois, Araci de Almeida foi procurar o Henrique, dizendo a ele que o samba seria gravado por ela, pois o Wilson Batista o havia completado com uma linda segunda parte. Foi assim que Henrique de Almeida tomou conhecimento da parceria com Wilson Batista e foi assim que ele veio a conhecer a música completa, realmente gravada por Araci de Almeida, em 18 de outubro de 1946, na Odeon, disco 12.742. Francisco Alves cantou Louco em seus programas, com uma interpretação diferente da que Araci costumava dar, mostrando-se mais sentimental, mais plangente, mais emocionado.

CABOCLO BOM (Hekel de Tavares e Raul Pederneiras)
Outra canção sertaneja, que conta uma história de amor onde o terceiro personagem muda o rumo das coisas. Um final expressivo, espirituoso, à maneira de Raul Pederneiras, famoso caricaturista que fez do humor a força maior de sua expressão artística. Melodia bem feita, assinada por um gênio da nossa música: Hekel Tavares. A interpretação de Francisco Alves conduz a canção para um terreno bastante sentimental, ao contrário da maneira de sentir de outros cantores da época, que eram mais brejeiros e que até davam um andamento mais movido a esta canção. Este é um registro que vale, sobretudo por Francisco Alves se mostrar bastante sentimental numa canção que caminha para um desfecho gaiato. Quem primeiro gravou Caboclo Bom foi Paraguassu, na Columbia, em disco 5.243, lançado em julho de 1930.

DA COR DO PECADO (Bororó)
Foi Sílvio Caldas que revelou ao Brasil inteiro este clássico da música popular, numa gravação feita na Victor, em 6 de julho de 1939. Disco 34.485, rotulado de samba, mas que os especialistas preferem considerar como choro. Vale apreciar, no arranjo que Francisco Alves canta, o trabalho das cordas e a preparação para a volta ao canto na segunda parte da música, em entrada segura do intérprete. O êxito de Da Cor do Pecado, ofuscou o restante da obra de Bororó , que chegou a ser apontado como compositor de uma música só, o que é injusto, pois ele assina outras composições belíssimas. Mas, sem dúvida, Da Cor do Pecado permanece, historicamente, como o principal produto da inspiração de Alberto Simoens da Silva, o Bororó, amigo e companheiro de Francisco Alves, nas horas vadias do Café Nice, nos programas de rádio e nas madrugadas cariocas.

JORNAL DE ONTEM (Romeu Gentil e Elisário Teixeira)
Todos sabem que Orlando Silva deve a Francisco Alves sua entrada para o rádio. O Rei da Voz tomou-o como afilhado, levando-o a cantar em seu programa na Rádio Cajuti. Pois bem. Orlando cresceu, tornou-se ídolo e foi apontado como o maior rival de Francisco Alves. Isto poderia ter provocado uma ponta de ciúme no velho Chico, mas não. Os dois sempre se deram bem e chegaram a cantar juntos. Cada um tinha repertório próprio, mas isto não impediu que Francisco Alves cantasse no rádio músicas criadas pelo Cantor das Multidões, como é o caso de Jornal de Ontem, que Orlando gravou em disco Odeon 12.838, em 19 de dezembro de 1947. Jornal de Ontem é mais uma raridade na voz de Francisco Alves.

SAUDADE DE ITAPOÃ (Dorival Caymmi)
Apesar dos defeitos apresentados na matriz desta gravação, ela teria de figurar num trabalho como o presente, onde se restaura um época importante do rádio no Brasil. E teria de figurar pelo luxo da orquestração, pela riqueza da presença do Conjunto Coral que a Rádio Nacional mantinha, conjunto onde todos liam música para participar dos principais programas da emissora. A Grande Orquestra se apresenta aqui em mais um desempenho apurado. A voz de Francisco Alves, clara, potente, domina o arranjo de Lírio Panicali, cantando com desenvoltura, brilhando até nas respostas, no trecho em que diz, apenas, “morena” ou “me deixa”. Um bonito trabalho do arranjador, do intérprete, dos músicos e do coral. A primeira gravação desta música foi feita pelo autor, Dorival Caymmi, em 5 de novembro de 1947, na Victor, disco 80.0576.

NA BAIXA DO SAPATEIRO (Ary Barroso)
O grande coral da emissora comprova sua versatilidade, transformando-se num pequeno grupo para cantar a primeira parte desse famoso samba-jongo do Mestre Ary. Francisco Alves destaca-se na segunda parte, com a imponência de sua voz e a força de sua interpretação, demonstrando um temperamento artístico soberbo. O Rei da Voz confirma reconhecidas virtudes, conseguindo realizar, nesta gravação, uma das mais belas interpretações de Na Baixa do Sapateiro. Flagrante sonoro que permite a visão de tempos idos, quando o trabalho no rádio era feito ao vivo e quando uma grande equipe se empenhava na montagem e execução do programa do ídolo Francisco Alves, um cantor de inesquecível presença na música brasileira. Quem primeiro gravou Na Baixa do Sapateiro foi Carmen Miranda, em disco Odeon 11.667, a 17 de outubro de 1938.

Paulo Tapajós (junho/86)

FICHA TÉCNICA
Produção Fonográfica: Collector’s Editora Ltda.
Produção Artística: Ricardo Manzo
Produção Executiva: Collector’s Editora Ltda.
Arquivo Fonográfico: Collector’s Editora Ltda.
Redução de ruídos transientes: Ayrton Pisco
Reprocessamento, equalização e montagem: Wilson Medeiros
Estúdio: Transamérica (Rio de Janeiro)
Corte e prensagem: PolyGram do Brasil Ltda.
Capa e encarte: Sérgio Henriques